Estou agora rindo de mim mesma.... para começar a escrever esse post, tive que lembrar de vários detalhes de uma planejada e aguardada viagem de navio, em março de 2007. Achei graça porque me lembrei o que me moveu a optar por esse transporte e estilo de viagem. Aproveito para indicar um filme que faz parte da meu Top 10: "Lua de Fel" (Bitter Moon, 1992). Quem já viu, certamente guardou na memória e na pele. É um filme intenso, denso, que trata do relacionamento homem/mulher com seus altos e baixos, suas nuances e borrões. Um filme apoteótico, dirigido por Roman Polanski e estrelado pela exuberante atriz francesa Emmanuelle Seigner (além de Hugh Grant, Peter Coyote e Kristin Scott Thomas).
Afinal o que tem a ver uma coisa com a outra? É que no final do filme há uma cena lindamente dirigida em que a Mimi (Emmanuelle Seigner) dança de forma sedutora num grande evento do navio onde está embarcada.... trajando um belo par de luvas negras e longas. Fetiche ou não, eu queria porque queria estar num navio e ter a chance de desempenhar aquela cena, reproduzida e livremente adaptada por mim, rs, com as tais luvas longas. Foi assim que decidi viajar de navio para Punta del Este e Buenos Aires!
Eu e um grupo de três amigos optamos pela MSC Cruzeiros, pois era a única companhia que disponibilizava na ocasião, uma última saída em março para o tal destino (antes de realizar a travessia e subir para a Europa). Confesso que arrumar a minha bagagem foi algo bastante trabalhoso.... sou exagerada e virginiana com malas.... sempre.... imagina ter que pensar nas produções para a piscina, restaurantes, boates, noite com comandante, jantar de gala, festa à fantasia, desembarques com los hermanos, frio, calor, meia estação e tudo mais. entrei em pânico. Mas consegui me organizar, é claro.
Descobri que muito do glamour em torno de uma viagem de navio está no nosso imaginário. Lá dentro, procurei a informalidade à beira da piscina, trajes bonitos porém confortáveis nos jantares, elegância sem excesso na noite do comandante, e despretensão e leveza ao desembarcar para os passeios em terra. Tudo na medida certa, sem pecar como as argentinas e italianas à bordo, sempre extravagantes e maquiadérrimas, com saltos gigantescos e oscilantes no vai-e-vem das marés. Despojamento e simplicidade é a fórmula certa para um cruzeiro. Você pode estar bárbara (ou fantástico), sem se parecer com uma cantora paraense ou um dançarino latino - quero deixar bemmmm claro que não tenho nada contra, mas nada a favor também. Vi muitos babados enormes, peles (acredite, é sério), rendas em sobreposição (como é possível isso???), bota de montaria com calça branca, cabelos armados com laquê (ou sei lá o que), bocas besuntadas de carmim, olhos a la Amy Winehouse e outras coisas que nem ouso mencionar... melhor deixar esquecido e enterrado, hahahaha.
Lógico que tive meu momento glam. E acho que ninguém entendeu o que se passava comigo. O que importa? Lá estava eu, no meio do oceano, navegando, cercada por estranhos, com minhas longas luvas negras.......... uma noite memorável. Bebi champagne em nome de Emmanuelle Seigner.
Tudo no navio funciona incrivelmente bem. É uma infraestrutura perfeita, administrada com competência. O serviço nas cabines é eficiente, as camareiras atenciosas, os garçons respeitosos, os maitres gentis, enfim.... a tripulação é nota mil. Eles moram no navio por seis meses e ficam ansiosos por atenção e sorrisos. O povo da recreação é com quem de cara travamos contato e fizemos amizade. Mas, depois, havia amigos na cozinha, na casa de máquinas, na recepção, na limpeza e tudo mais.... Lá dentro me senti como uma BBB..... só que seria um Big Brother flutuante, um confinamento refinado e amplo, com gente de todas as partes do mundo. Uma verdadeira Torre de Babel flutuante.
Obviamente há muito excesso. Tem muita cafonice, muitos pecados numa viagem assim. Mas, a dica é ir de coração aberto. Ir para se divertir! Quer coisa melhor do que dar risadas saborosas sem grandes motivos? No navio é assim, a gente ri muito, todo o tempo. É só estar desarmado e bem humorado.
O tal toteiro que escolhemos, Buenos Aires e Punta del Este (às vésperas do navio fazer a travessia), podia ser apelidado de o "Cruzeiro das Múmias". Tinha tanta gente idosa embarcada, que o navio parecia um sarcófago. Acho que as famílias os deixam ali, com os acompanhantes (enfermeiras, geralmente), como se o navio fosse uma casa de repouso de luxo. Tem as refeições todas (cinco por dia), assistência, atividades, muita gente por perto todo o tempo, piano bar, cassino, enfim... acaba sendo muito cômodo. Eu e meus amigos adoramos observar essas coisas e ficávamos ansiosos pela próxima cidade de embarque para ver quem chegaria e incrementaria aquele público tão entusiasmado, rs.
Sei que nos divertimos horrores, fizemos excelentes compras em Buenos Aires, assim como passeios (corridos, acelerados, mas bem legais), pegamos uma ventania em Punta, fizemos boas amizades, voltamos cheios de histórias e lembranças.
Fiquei mareada em terra firme, depois dos 10 dias embarcada........ o retorno à vida real me deixou enjoada. KKKKKKKKK!!!!!!!!!!!